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quinta-feira, 15 de junho de 2017

Invisibilidade-Gentrificação-Ilha da banana

No semáforo, quando abaixamos um pouquinho o vidro e entregamos aquela moeda geladinha sem olhar para a cara do sujeito compramos momentaneamente a nossa consciência.
Falam em invisibilidade, mas ignorar não causa invisibilidade, só não se esforçam pra fazer parte de uma provável solução. Como uma coisa pode ser invisível se todos convenientemente se apropriam dela, o Estado e seus governos ávidos por discursos que se valem destas situações para venderem seu peixe, neste caso especifico podem usar as palavras que mais se ouvem nas campanhas eleitorais fáceis nas bocas destes que adoram problemas permanentes que retroalimentam seus discursos: segurança, saúde e educação. A Academia com seus artigos e é ventos que por mais bem intencionados que sejam não causam um fato relevante sequer para um possível movimento de solução. Aqueles que se valem destas imagens para roteirizar grandes enredos, tirar fotografias que não de propósito, mas sem querer querendo estetizam a miséria ganham prêmios, participam de festivais, mas não existe a materialização de uma solução, mínima que seja.
O gestor estrategicamente pensa que todos reunidos em um trecho especifico da Cidade, já em si, é um magnifico controle, evita “intervir”; e o controle não é só dos habitantes da ilha, mas de toda a cidade, pois aliado à mídia veicula notícias que provocam o medo, o auto confinamento; esta atitude vem a calhar porque os habitantes do lugar também não querem sair; tem tudo ali, os que abastecem, os que compram, os que se escondem, pequenas apropriações forçadas podem ser feitas, pois o fluxo de pessoas é intenso, são vários semáforos.
Não existe desumanidade, não somos alienígenas, todo processo que produz virtude ou barbárie é totalmente concebido por nós humanos. Não podemos nos contradizer pedindo dignidade para as pessoas ao mesmo tempo que não aceitamos que elas saiam daqueles escombros, isto não faz parte do acordo que todos temos com a Cidade e infelizmente a cidade não esta cumprindo a sua função que é promover o encontro dos diferentes e das diferenças, para isto inventamos a Cidade. Em situações como esta, a da ocupação, o que existe é sobrevivência, difícil, mas pode até ser que aconteça, o afeto, a educação.
Moro aqui há 37 anos, tenho imagens do final da década de 80 com atividades de recuperação do Morro da Luz, no final da década de 90 o Júlio Mariano participou de um trabalho de final de curso que dissecou o Morro da luz e a sua história, tenho fotos, VHS, tenho o coração do Morro, em todas as ocasiões festas monumentais aconteciam, mas a ressaca não tardava, pois ficava quem gostava realmente do Morro.
Sinceramente a Cidade merece que o que estava projetado, há décadas, se materialize: a integração da igreja, com o Morro da Luz e o trecho da ilha da banana, uma grande praça, onde todos, eu disse todos possam rela(r)cionar-se. A Cidade precisa cuidar bem dos seus citadinos e cuidar dos habitantes da ilha da banana é primordial, são pessoas que passam por situações que a própria Cidade e suas promessas não cumpridas provocam, as desestabilizam, por isso momentaneamente vivem nesta situação.
Um conceito, a Gentrificação é utilizado de modo equivocado, em minha opinião, para tentar explicar esta ação de reintegração. Não está sendo provocado um movimento que violente as praticas culturais do local, só se a regra for morar em escombros, consumir drogas (ainda não foi aprovada uma lei que libere as drogas e determine locais para o consumo) e uma possível ocupação do trecho por mega projetos imobiliários que vão beneficiar uns poucos, nada disso esta acontecendo ali, até mesmo porque à área para execução de um projeto que privilegie o lucro é muito pequena; lucratividade como sempre é a do tráfico e das ações adiadas do mau gestor. É um bom assunto, gosto muito e vou continuar esmiuçando-o.

Júlio César de Carvalho Jota


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