Ótica ética destes neo-assépticos

Adenaide é minha vizinha, a da calçada asséptica. Mas nem sempre foi assim. Algumas décadas atrás, eu já morador na região, acompanhei a chegada destes, então, novos vizinhos com filhos ainda adolescentes, sempre em estado de guerra com os meus. A casa adquirida por eles era confortável, ampla, espaçosa, faltava algum acabamento, coisa finalizada recentemente. Adenaide é uma professora, hoje já aposentada, vive com o marido Denilton e a filha Pantufa, apelido carinhoso. A casa toda remodelada modificou os hábitos da família, saíram de um tempero vassoura/poeira para uma ousada dieta de poeira zero, a impressão é que a calçada recebe constantemente a visita de um aspirador de pó. Eles não percebem, mas há ali, um excesso de assepsia. Mas o que impressiona é que de manhazinha saem desconfiadinhos e liberam um poodle mal educado para cagar nos matinhos da minha calçada. Vai entender a ótica ética destes neo-assépticos.

Júlio César de Carvalho Jota