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Eles não veem novelas, se enovelam em novelos humanos; não velam só revelam a novela humana em novenas sacroprofanas. Júlio César de Carval...

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domingo, 19 de janeiro de 2014

Ocar

Em Junho do ano passado tivemos um rolezinho bacana. As pessoas se encontraram nas ruas e calçadas, conversaram, trocaram ideias, como se estivessem em uma grande praça, ao ar livre. Olharam-se nos olhos, se emocionaram com a, até então, fictícia existência do outro real, foram tocados e também tocaram o outro. Não foi por prazer, foi a vontade, a boa vontade que proporcionou este encontro causador de muitas interrogações, mas que até o momento não conseguiram dizer qual a pergunta deve ser feita para tentar uma resposta mínima que seja para este desejo do achegamento.
 Agora temos um outro rolezinho acontecendo, sem similaridade com o que ocorreu em Junho, na minha opinião este é por prazer. Não percebo nessas pessoas interesse em ocupar o poder que a minoria privilegiada detém. Imagino que imaginam ter um tesouro escondido por detrás daqueles muros presidiais que vendem os mesmos produtos chineses dos shoppings populares, banquinhas e barraquinhas de camelôs. Será que é desejo de assepsia que o ar condicionado proporciona? Será que é só para observar a disciplina bovina dos que vão para o matadouro da enganosa sedução do consumo? Ou a simples elucidação do que está no interior daquela coisa, com cheiros falsos, equilibrada e morta, um não lugar?
Dando os meus passos na Cidade percebo que a iniciativa privada com o desinteresse dos municípios vai ocupando os espaços públicos sem nenhuma dificuldade; onde poderia ser uma praça, um lugar de convivência, onde até o silencio poderia ser cultuado; materializa-se mais uma horrorosa loja do varejo, no centro, no coração da Cidade, em um lugar cultuado pelos cults que só já poetizam a possível finitude do lugar. Alguns Mise-en-scène acontecem para confundir a maioria que não pensa
É uma violência impedir que a Cidade cumpra o seu desígnio de, como disse um conhecido muito tempo atrás, o Aristóteles, de ofertar para as gentes segurança e felicidade. O talento que a Cidade tem para fazer com que isso ocorra é barbaramente extirpado de suas entranhas por incapazes ou mal intencionados.
A Cidade tenta de alguma maneira chamar à atenção para a violência que cometem com ela, mas estão todos em uma espécie de torpor, desinteressados, excluídos, auto confinados entre muros e carnes presidiais.
Tornar oca uma Cidade que pulsa parece ser a habilidade do momento. Um ocar que não esvazia os vazios das gentes. Estratégia criminosa para facilitar o controle, ao mesmo tempo que preenche os bolsos já cheios daqueles que executam com uma certa maestria esta tarefa.
Júlio César de Carvalho Jota

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