Em Junho do ano passado
tivemos um rolezinho bacana. As pessoas se encontraram nas ruas e calçadas,
conversaram, trocaram ideias, como se estivessem em uma grande praça, ao ar
livre. Olharam-se nos olhos, se emocionaram com a, até então, fictícia existência
do outro real, foram tocados e também tocaram o outro. Não foi por prazer, foi
a vontade, a boa vontade que proporcionou este encontro causador de muitas
interrogações, mas que até o momento não conseguiram dizer qual a pergunta deve
ser feita para tentar uma resposta mínima que seja para este desejo do
achegamento.
Agora temos um outro rolezinho acontecendo,
sem similaridade com o que ocorreu em Junho, na minha opinião este é por prazer.
Não percebo nessas pessoas interesse em ocupar o poder que a minoria
privilegiada detém. Imagino que imaginam ter um tesouro escondido por detrás
daqueles muros presidiais que vendem os mesmos produtos chineses dos shoppings populares,
banquinhas e barraquinhas de camelôs. Será que é desejo de assepsia que o ar condicionado
proporciona? Será que é só para observar a disciplina bovina dos que vão para o
matadouro da enganosa sedução do consumo? Ou a simples elucidação do que está
no interior daquela coisa, com cheiros falsos, equilibrada e morta, um não
lugar?
Dando os meus
passos na Cidade percebo que a iniciativa privada com o desinteresse dos
municípios vai ocupando os espaços públicos sem nenhuma dificuldade; onde
poderia ser uma praça, um lugar de convivência, onde até o silencio poderia ser
cultuado; materializa-se mais uma horrorosa loja do varejo, no centro, no
coração da Cidade, em um lugar cultuado pelos cults que só já poetizam a possível
finitude do lugar. Alguns Mise-en-scène acontecem para confundir a maioria que
não pensa
É uma violência
impedir que a Cidade cumpra o seu desígnio de, como disse um conhecido muito
tempo atrás, o Aristóteles, de ofertar para as gentes segurança e felicidade. O
talento que a Cidade tem para fazer com que isso ocorra é barbaramente
extirpado de suas entranhas por incapazes ou mal intencionados.
A Cidade tenta
de alguma maneira chamar à atenção para a violência que cometem com ela, mas
estão todos em uma espécie de torpor, desinteressados, excluídos, auto
confinados entre muros e carnes presidiais.
Tornar oca uma
Cidade que pulsa parece ser a habilidade do momento. Um ocar que não esvazia os
vazios das gentes. Estratégia criminosa para facilitar o controle, ao mesmo
tempo que preenche os bolsos já cheios daqueles que executam com uma certa
maestria esta tarefa.
Júlio César de Carvalho
Jota
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