A política
começa na fumaça que sai da ponta de um paiêro e termina na fumaça que sai da
ponta de um habano.
Quando
criança morava na roça; vez ou outra levava comida para os que estavam na lida.
Um flâneur desde então. Ficava observando os movimentos que coreografavam
aquele ritual da pausa para alimentar a máquina da capina. Comiam com
velocidade, uma impressão de engolimento. Hoje entendo que o verdadeiro
interesse era o tempo para saborear um paiêro. Escolhida com rigor quando descascavam
o milho já seco, a palha, preparada para permitir ao fumo picadinho - com um
canivete de cabo de madeira retrátil - um lugar para o seu saboreio. Enrolavam, nem frouxo nem
apertado e o acendiam com uma binga de rastilho comprido. Enquanto a fumaça
fazia o seu trajeto na boca de cada um, iam conversando sobre como melhorar a
maneira de lidar com os trabalhos de cada dia. Apagavam o paiêro com a bunda da
binga, colocavam o que sobrou atrás da orelha e voltavam para a capina. Uma
nova pausa e o paiêro da orelha era novamente acendido e ideias borbulhavam. Ideias
que surgiam e se materializavam no outro dia. Isto é política, materializar
comunicações.
Nunca vi um
habano atrás da orelha. Irônico imaginar que um habano legitimo, normalmente
celebrado no interior de um cigar longe, tem que ser guilhotinado para ter seus
aromas e sabores percebidos. Não posso acender um habano com uma binga, tenho que
usar um fósforo longo para evitar que a suas chamas queimem diretamente as
folhas enroladas. Para verificar a sua validade tenho que medir as suas cinzas
e verificar a suas cores; só depois vou fazer com que sua fumaça circule
livremente no interior da minha boca. Se apagar, por alguma inabilidade, não
pode ser aceso naquele momento, vai para uma caixinha separada, nada de orelha.
Esta ação sofisticada impede que ideias sejam trançadas, nem surgem, e, não tem
como materializar algo que não foi contaminado pela comunicação. Negócios devem
acontecer. Contratos podem ser assinados. Mas politica na acepção da palavra,
não.
Com um Paiêro
comunicamos, criamos complexidades, materializamos esta comunicação quando o
passo vai daqui para ali e até filosofamos.
Com um habano
nos isolamos em grandes poltronas confortáveis, um copo de cognac ou tequila,
criamos sofisticação, mas a comunicação é daqui para daqui mesmo.
Faz tempo
que os que nos representam trocaram o paiêro pelo habano.
Júlio César de Carvalho Jota
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