Não foram tempos bons no sentido do passo, as passadas foram curtas; muitos sucumbiram embaçados que foram pelo excesso de ideologia ou até mesmo pela falta dela. Mas altamente didáticos. Nesses períodos servimos de pasto para desenvolver os desenvolvidos, caixa garantido para a “competência” dos ditos civilizados. Invasores e usurpadores, de terras, de riquezas, de idéias.
Cobaias de economistas escrevendo teses de doutorado estagiários do capital sem bandeira que já naquela época ditavam índices mascarados. Depósito de sucatas tecnológicas. Um grande laboratório cruel, cujas experiências serviam e divertiam os de fora incluindo aí os aliados servis de dentro. Mas a redondez do mundo força ou dá a impressão que as coisas voltam a se entrecruzar, quem sabe para avaliar se o sibilar do açoite cumpriu o seu papel.
Nos 1940 uma atividade cinematográfica muito ativa, Cinédia, Atlântida e Vera Cruz simplesmente arrefeceu, diminui o ritmo de forma contundente. Estar nas telas do mundo inteiro é uma forma de conquistar; se abdicamos desse método, necessário pensar qual foi a intenção. Os do Norte são maestros nisso.
Nos 1950 optou-se pelo modal rodoviário, ah! Juscelino, bom menino. Não sei se proposital, mas nessa ação Juscelino cria a mais perfeita máquina arrecadadora de impostos e tributos; ignorando o desenvolvimento que o modal ferroviário possibilitaria no transporte de cargas e passageiros. Entendo a motivação para acordos que culminaram com a invasão de montadoras, afinal construir uma Capital no meio do nada era um desafio e para vencê-lo não houve economia nos acertos. Pensando no governo Dilma e nas ações que são arquitetadas para evitar um contágio, forte, da crise do euro, percebo uma movimentação muito explícita quando manipula-se os valores dos combustíveis, um refil que os brasileiros não questionam como deveriam; ter o seu transporte individual é um luxo perseguido por todos, uma droga como qualquer outra. O incentivo ao transporte individual é evidente e facilitado; tanto para o consumidor final, quanto para a indústria, montadoras e fabricantes de peças e acessórios. Ignorando convenientemente uma engenharia de trânsito que privilegie um modal coletivo de transporte urbano. Um ônibus articulado transporta o equivalente aos passageiros de 127 automóveis. O prejuízo de 40 bilhões de reais anuais acumulados através de congestionamentos e tudo o mais que eles provocam, são pagos com os impostos que arrecadam, ou seja, nosso dinheiro. Pensem um Bi-Trem trafegando nas nossas estradas superfaturadas e sempre em reparos; imaginem esse Bi-Trem com uma carga de cigarro, cachaça e os jogos de vídeo game que são uma febre, todos esses produtos tem uma carga tributária acima dos 70%; o instrumento de transporte, o caminhão, com seu combustível, pneus, óleos lubrificantes, acessórios, também tem uma carga tributária muito elevada. Grande sacada.
Nos 1960 a TFP “revolucionária” marchou, como sempre equivocada, contra a contaminação do rebuliço que acontecia no mundo, Woodstock, festivais da canção, homem na lua, será?
Nos 1970, Brasil, 90 milhões em ação, campeão do mundo, era para amar ou para deixar. Ocupação do território. Guerrilha no Araguaia, coisa ainda não resolvida. Uma longa viagem pelo território brasileiro e vizinhos, de carona, viagem tranqüila, dormindo nas praças e rodoviárias, em albergues, sem nunca, em nenhum momento, ser molestado. Isso me faz pensar algumas incongruências.
Dos 1980 para cá, a coisa ficou morna, um sono letárgico ou uma névoa transmuta-se no desejo de só perceber vultos, arremedos de desenformes. Mãos e pés com a pele fina, falta o exercício do toque e do passo. A conveniência do isolamento, ebrifestivos que ficamos em frente a uma tela luminosa, leva a redução até do toque no teclado causando a diminuição dos caracteres imprimidos, o paradoxo é o excesso de informação que dizima o valor da palavra.
Mas apesar de todo esse movimento que teima em nos fazer estar mornos, percebo hoje uma mudança na extensão e firmeza do passo. Foram rompidas as paredes de vidro que impediam a fuga dessa cruel loja de horrores e embora saiba que esses cientistas que provocam o caos alheio se adaptam a todas as condições vejo ali, atrás da montanha, do lado de lá, parte deles se encontram em situação delicada. Devem estar pensando como era bacana e muito fácil experienciar em quintal alheio; com custos, despesas e materiais, tudo por conta da colônia, uma diversão.
Com a labuta e o chicote, aprendemos e ainda estamos aprendendo. Hoje o pasto, antes servil, provoca e exporta - discursos e commodities - mas já é outro exercício. (conti nua)
Júlio César de Carvalho Jota
Filósofo
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