Agora querem tirar minhas sacolinhas. Como não temos programas locais de mídia televisiva que qualifiquem o debate em torno de um assunto aparentemente sem importância, mas que no seu bojo esconde movimentos mais complexos que engendram situações para responsabilizar o cidadão pelo caos ambiental urbano, no caso o uso das sacolas plásticas que embalam as compras no supermercado e posteriormente me auxiliam na embalagem dos resíduos caseiros, que vão para a lixeira e, logo após, recolhidos pelo sistema de coleta da cidade. Penso que poder evitar a degradação do trecho onde moro é obrigação, mas todos têm que fazer a parte que lhe cabe. Moro em uma cidade com 270 mil habitantes que não tem a coleta de lixo regular, uma coleta seletiva nem pensar. Essa cidade não tem já há algum tempo um paço que dê um passo e funcione. Cidade parecida com uma escola vazia, sem professores, o habitante cidadão aprende sozinho, se auto legisla (nem todos) em uma cidade repleta de vícios. Isso incapacita a crítica, ficamos sem um Norte, um Sul, sem rumo enfim.
Voltemos as sacolinhas. Em São Paulo alguns supermercados, oportunamente, utilizando uma instalação de arte, espalharam gigantescas sacolas nas principais avenidas da cidade, jogada inteligente do departamento de marketing aliada ao horário comprado na emissora que mais propaga e recebe por esses sinais. A idéia é passar para o cidadão consumidor que as marcas vinculadas àquele sacolão não vão mais oferecer as sacolinhas, se quiser o consumidor vai ter que pagar 0,20 centavos por cada uma; vai ser o produto com maior índice de lucro da empresa. A imagem que é vendida pelo merchan é que aquelas empresas têm responsabilidade ambiental. Mentira. Mais uma vez o cidadão consumidor é engabelado, transformando-se em vilão nessa história das sacolinhas. O não uso das sacolinhas não vai resolver os problemas ambientais que malandramente indústria e distribuidores querem fazer parecer.
De volta para Várzea Grande. Como abdicar das minhas sacolinhas. A indústria usa de variados estratagemas para seduzir o cidadão consumidor; o mais usual é o visual das suas múltiplas embalagens, às vezes para vender o mesmo produto; o desperdício e a agressão ao meio ambiente começam aí. A indústria não oferece nenhuma opção para descarte dos resíduos daquilo que sobra, após a retirada daquilo que vai ser consumido, resíduos esses, que ficam sob nossa guarda. O destino final do excesso de lixo industrial que me acompanham no impulso do consumo fica sob minha responsabilidade. Faço o possível, separo vidros, plásticos, com os orgânicos abasteço minhas plantas. Mas fiquei pensando, nós pagamos tudo, todos os produtos vêm embutidos impostos, tributos, salários e ainda somos responsáveis pelo lixo que eles produzem e nós pagamos também por ele.
Enquanto o paço não der um passo que contemple o cidadão com uma melhor qualidade de vida; administrando aquilo que é arrecadado com o que pagamos de impostos e tributos como uma autoridade responsável deve fazer; oferecendo todos os serviços pelos quais pagamos inclusive uma coleta de lixo seletiva; enquanto as indústrias não abandonarem esse pedestal de santas do pau oco e amiguinhas do meio ambiente, não vou pagar pelas sacolinhas, não vou comprar sacos industriais, só vou aos supermercados que me oferecerem a sacolinha como de hábito. Sacola por sacola fico com a que me é ofertada aparentemente sem custo. Sem hipocrisia. É isso.
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