Em fila, corredores climatizados,
música ambiente, de preferencia clássicos da música erudita passo lento,
aparentemente bem tranquilos, relaxados, um olhando a bunda do outro, melhor, o
rabo, depois um banho com hidro, de repente o tiro sônico final ou uma
martelada fatal, que antecede a degola; dizem os terapeutas de boi para o abate
- isto melhora muito a qualidade da carne, torna-a bem macia; são animais de
uma certa estirpe, diferenciados, bem alimentados, peso bom, acima do limite.
Vão ser esquartejados até a mínima peça e servidos nas mesas mais caras.
O gado
humano de fino trato também não esta fugindo dessas características, têm seus
terapeutas para mantê-los relaxados nos corredores da redoma, de quatro; quando
recebem o tiro fatal e posterior degola que retira o pouco de sangue que ainda resta,
pedem que suas partes sejam jogadas nas montanhas, lagos ou pequenos córregos
que navegam pelas florestas; reencarnam-se momentaneamente para autografar
autobiografias, retornam etereamente.
O gado comum continua sendo morto nas
pequenas mangas de currais de madeira roliça, um ritual que culmina em uma
sangria no pescoço, o abatedor levanta a faca desfere um único golpe e dança,
enquanto o animal se debate muito, depois vai morrendo lentamente em cima de um
pequeno rio de sangue, cerrando os olhos devagarinho, com aqueles cílios
enormes, marcando todos com seu olhar; também vai ser esquartejado ate a mínima
peça só que servido nas bancas da periferia.
E assim é com a massa do gado
humano comum, sem direito a corredores climatizados, musicas para relaxar e
abatido vai largando suas partes nas ruelas e becos empoeirados sem direito a
biografia. Mas as partes largadas vão marcando paredes com uma tinta difícil de
lavar.
Abandonar o sulco, sair do facão, do veio, arrebentar com os corredores,
começar o dia com o pé esquerdo... É preciso
Júlio César de Carvalho Jota
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