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quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Marinalva I

07 horas da manha a campainha toca, vejo pelo vidro que é a Marinalva, uma ex-diarista que tornou-se uma grande amiga, estava com o neto e duas netas. Oi Seu Júlio, com aquele jeito várzea-grandense de ser, como vai, cadê a Dona e já foi entrando. Marinalva não oferecia mais seus trabalhos de diarista há bem uns oito anos. Estava trabalhando com compra e venda de roupas usadas, um brechó ambulante. Construiu alguns quartos na casa dela com créditos da Madeireira Titão e a renda do brechó. Estava muito fácil Seu Júlio, não faziam nem cadastro, disse ela tempos atrás. Alugou os quartos e com a renda melhorou a qualidade de vida da família. Mas para minha surpresa, depois de jogarmos um pouco de conversa fora, Marinalva veio para oferecer seus serviços de diarista. Percebi na Marinalva uma chateação, quase uma tristeza e ela percebendo que percebi me perguntou na bucha, porque não está dando mais certo Seu Júlio, meus inquilinos não conseguem pagar mais os aluguéis, não consigo clientes para meu brechó e os que tenho não conseguem me pagar, por isto estou devendo as prestações lá na Titão. Pensei como vou explicar para a Marinalva que a forma que o governo encontrou para manter as chances de prolongar o seu tempo governando era criando uma ilusão de felicidade através do consumo, mas que cedo ou tarde este sistema se mostraria frágil, porque não criava estruturas, pilares, e iria ser confrontado e as pessoas que compraram aquela ideia sem tentar entender como seria ficariam decepcionadas. Embora o desejo fosse desmascarar aquele engodo, preferi dizer a ela que era só um movimento passageiro e que logo as coisas voltariam a normalidade, de pronto aceitei a oferta de tê-la novamente como diarista. Ela não imaginava, mas pensei já estão voltando a normalidade, o que ela viveu foram momentos de uma fracassada excepcionalidade. Uma pena que neste tempo todo de governança não fortaleceram as estruturas do país para impedir um vendaval na auto estima da Marinalva.

Júlio César de Carvalho Jota

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