Pensar a distribuição como ponta do processo me remete a entender a mercadoria com valoração duvidosa; o sangue humano que brota no exercício da fabricação nas plantas de fabricação atual, arquitetadas para abastecer as grandes redes/bancos, retira a utilidade do fazer humano; passa a ser somente mais um item na composição do empréstimo.
Um componente que me faz pensar a mercadoria como algo sem valor e destituída de utilidade é a forma como me fazem percebê-la: A agressividade da propaganda; que através de infinitas vias naturaliza o mercado e suas técnicas, causando um efeito na realidade. Por isso o artesão com a sua “preguiça” e a utilidade de seu labor, passa a ter um produto, o seu produto, hipervalorizado; podendo ser o alface da Chapada, o violão feito pelo Sitó ou a forração de teto feita pelo José Maria lá em Goiás.
Mas a indústria da distribuição se adapta e... Atua nos extremos do processo. Passamos a ter aquele que distribui a mercadoria ISOada que possui o selo que garante valor no mercado e a aparente ação de um “artesão” que qualifica o produto e, na outra ponta, o mercado paralelo que embora fabrique coisas que se encaixam não tem o selo da sua genuidade e devido a isso oferecem essas mesmas coisas por valores bem inferiores, muito conveniente.
Pensando dessa forma o empresário que distribui produtos que causam dependência, drogas por exemplo; cigarros, bebidas, cocaína, crack, anfetaminas e muitos alimentos que ingerimos; também distribui a possibilidade de recuperação nas clínicas e spas de sua propriedade. Outro empreendedor que atue nessa mesma área, mas que distribua mercadorias ou produtos que permanecem invisíveis ou excluídos do mercado legal de trocas; pode tranquilamente montar um centro distribuidor de vendas de produtos ou mercadorias variados dentro das normas; basta fomentar através da demanda de seu produto, a troca por mercadorias variadas e aí não existe por parte deste negociante nenhuma preocupação com valor de troca, uso ou substância agregada através de labor humano.
Esta indução ao pagamento através de trocas de mercadorias tem sucesso garantido; existem milhares de consumidores que necessitam do produto e só podem adquiri-lo através desta modalidade de pagamento; são os sem teto, sem rua, sem dignidade, sem respeito e por isso quase inumanos, daí a sua invisibilidade. Invisibilidade testada quando os pára-brisas são quebrados, as casas invadidas ou a campainha que toca para mostrar algum destes “animais” pedindo um saco de grão fechado para levar para a filhotinha que passa fome.
Todos se satisfazem; o distribuidor daquilo que é ilegal, legaliza a mercadoria recebendo como pagamento mercadorias que passaram pelo processo de produção legal, mas que sofrem um processo de captação variado por aquele que compra; que vai da doação até os roubos explícitos; e o consumidor tem o seu prazer efêmero satisfeito até a próxima “doação”.
Neste caso qual seria o conceito de mercadoria, se aquele que despende energia para materializá-la, recebendo uma doação ou simplesmente a roubando para fazer a troca, não participa em nenhum momento do seu fazimento?
A Cidade está repleta de invisibilidades, que nada mais são que coisas que não queremos ver. Estoques de problemas que servem aos discursos de instituições governamentais e não governamentais. Estoques esses que não podem ser zerados, pois são responsáveis pelo abastecimento da rede de improbidades, maldades, perversidades, ausência de caráter, desonestidade que dominam este país.
A Cidade sofre com este movimento, ela é o suporte de tudo isso; as coisas se desenvolvem nas suas ruas tortuosas ou não, becos, vielas, no lixo e no luxo e, todas as ações têm este direcionamento porque não ocupamos os espaços, confinados que estamos em nossos guetos particulares.
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