Sonhei que estava em um centro cultural, pasmem! Em Várzea Grande. Como em todas às vezes que sonho, procurei manter os olhos fechados para impedir o vôo prematuro do sonho; fiquei alguns minutos interagindo com a perfeição da câmera e seus planos, a fotografia com as luzes magistralmente esculpidas, como só os sonhos conseguem arquitetar. Fico pensando; qual entidade dirige tudo isso? Será minha subjetividade ainda alerta enquanto durmo e sonho?
Voltando a essa coisa utópica que é um Centro Cultural em Várzea Grande; utopia tendo a sua idéia quase materializada no final de 2005, início de 2006. A Avenida da FEB é trecho obrigatório para nós várzea-grandenses quando queremos atravessar a ponte velha que nos faz acessar o antigo Porto que é passagem para Cuiabá. Travessia praticada diariamente com olhar de observador.
Um flâneur visionário, que às vezes me ocupa, fez perceber uma propriedade particular abandonada já há algum tempo, que pertencia a uma revenda de automóveis e por isso mesmo projetada para dar o máximo de visibilidade ao seu produto; tendo suas linhas sido arquitetadas toda em concreto, vãos enormes e harmonizados, elevada altura do chão ao teto, ampla área livre, isso tudo privilegiando a luz e as correntes de vento próprias aqui da região. Uma enorme placa dizia que aquele imóvel estava à venda.
Também um corretor de imóveis e nós corretores quando percebemos uma placa o contato é imediato. Liguei no telefone indicado e a atendente mencionou o nome de um banco; pedi para falar com o responsável pelo imóvel; uma senhora atendeu e explicou que o imóvel fora penhorado e estava sendo vendido para cobrir o débito.
.Membro do Instituto Histórico e Geográfico aqui em Várzea Grande, naquele momento pensei que aquela entidade pudesse assumir a feitura de um projeto em parceria com o poder público que culminasse na compra e posterior construção de um Centro Cultural em Várzea Grande. Êita, sonho!
A família toda é envolvida com cidade/arte/cultura, todos membros do Instituto Histórico e Geográfico de Várzea Grande; sugerimos que uma reunião fosse feita para tratar deste assunto. Como ponto de partida a Constituição Brasileira de 1988 que em seu artigo 215 diz: “O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes de cultura nacional, e apoiará e incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais”.
Projeto grandioso, sublime, precisa que a cidade interaja de forma grandiosa através dos entes que a representam, que a vivem diuturnamente. Interessante, não me lembro do nome do prefeito à época, nem dos seus secretários, coordenadoria de cultura, educação e muito menos de alguns do Instituto do qual sou membro. Bom, como não fazíamos parte do staff que comandava naquele momento o Instituto, só ficávamos sabendo de alguma notícia nas reuniões que eram esparsas.
Reuniões iam e vinham, mas o assunto Centro Cultural foi esvaindo o sangue que não tinha. Bom, não aconteceu. Hoje o local é ocupado por um comércio que trabalha com a revenda de carros. Sua imponente arquitetura transformou-se em um grande painel que só tem significado para os que passam em seus bólidos insulfilmados. Às vezes pisco os olhos para ver se o sonho ainda não alçou vôo, de repente consigo aprisioná-lo e lançar as suas linhas já esculpidas sobre Várzea Grande.
Esse assunto fumaceou na minha mente, por que dia desses vi uma movimentação ali na Couto, umas barracas brancas, daquelas que a gente compra no supermercado, ocupando uma rua e um pedaço da Praça Aquidaban, uma chuva como há muito não via em Várzea Grande, o movimento era bom, resolvi parar.
Dei a volta na quadra para descobrir um lugar para estacionar e que molhasse menos. Não teve como, a dificuldade no estacionamento, aliado a chuva forte, mais o desejo de ver que história poderia contar daquela experiência me fizeram descer debaixo daquele chuvão. Que surpresa! As barracas abrigavam pessoas e o resultado dos seus cozimentos; é... Comida! E quem servia aqueles pratos? Membros do instituto histórico e também da prefeitura que ocupavam aquele espaço para levar cultura várzea grandense à população. Vejam só!
Muito ruim não ter um lugar para encontros de gentes; uma praça, cinema, parques, hortos florestais, bibliotecas, faixas para pedestres, semáforos sincronizados, feiras culturais, o mínimo de conforto para a mobilidade. Ter um prefeito com suas secretarias funcionando e um paço municipal onde os corredores não sejam privilégio dos compadres e seus agregados também é fundamental.
Várzea Grande, qual foi a sua grande obra nos últimos 27 anos? Não me lembro do nome de nenhum prefeito que a população pudesse dizer em alto e bom som, esse foi um grande realizador. Isso não é bom. Não temos referência no trecho e nem nas circunvizinhanças. A memória grava com mais contundência aquilo que faz a diferença. A maioria legisla em causa própria ou não saem de cima do muro, não são decisivos, estão sempre meio cheios ou meio vazios, não deixam marcas, são incompetentes até para fazer aquilo que não é bom para o cidadão que só espera: São mornos e, aos mornos será negado o acesso ao paraíso. Temos um bode na sala o tempo inteiro, nos acostumamos com o cheiro. O desejo é que façamos um grande cozido com esse Caprino. Depois disso a respiração vai fluir e esses 270 mil habitantes vão poder dizer que são, de fato, cidadãos.
Júlio César de Carvalho-J
muito bom adorei
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