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Eles não veem novelas, se enovelam em novelos humanos; não velam só revelam a novela humana em novenas sacroprofanas. Júlio César de Carval...

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sexta-feira, 10 de junho de 2011

Meio de Campo

     Quando o goleiro com um chute na bola faz uma ligação direta entre a defesa e o ataque, independente da estratégia existe no time que executa esta ação uma dificuldade evidente para quem é observador deste jogo: O meio de campo não joga, não participa, ou fica sempre próximo da defesa, ou aproxima-se mais do ataque, ocasionando um vazio que impossibilita a comunicação entre estas instâncias do time. Com esta tática de jogo, o gol ou a possibilidade dele, que é a materialização do diálogo que acontece entre a defesa e o ataque não acontece. Este movimento sobrecarrega a defesa que só resiste. Submetendo-se, o exercício de resistência vai sendo minado o que faz com que a sua meta seja inapelavelmente vazada com um gol do adversário.
      Quando inexiste o meio de campo, fica tudo muito embolado, amarrado, acontecem muitas faltas; a conseqüência disto é um jogo feio, violento; obriga o juiz da peleja a ser rigoroso. Facilita o desvelamento da tirania do mediador da contenda; um sentimento até então sob controle. E ele, o juiz, fica à vontade para distribuir cartões amarelos e vermelhos; estraga o espetáculo e, as torcidas organizadas ou não também se descontrolam. Este descontentamento causa uma movimentação extra campo que é a desenvolvida pela polícia que também sem controle, reprime com violência.
      Os atores deste espetáculo com suas frases feitas e altos salários imprimem, naqueles que gostam do jogo bem jogado, um descontentamento ainda maior; não se manifestam enquanto cidadãos que têm responsabilidades com o espetáculo: São marionetes embaraçadas nas linhas.
      Voltando de um jogo desses, percebi que a minha cidade é tudo isso. Não existe conexão entre as esferas. A política tem como papel fundamental trabalhar para materializar a comunicação entre a sociedade, acordo de nossas vontades, e o centro que decide, mas não cumpre o seu dever. Colou no príncipe, abandonando o trecho. Este vazio obriga uma tentativa de ligação direta, mas é inócua porque blindaram as torres: A conexão é feita só por aqueles portadores de senha que dá acesso a ponte levadiça.
      As manifestações elaboradas para demonstrar o nosso desprazer passam, então, a voltar-se contra nós mesmos; não temos o desprendimento, a disciplina que uma empreitada desta sugere. As nossas lideranças, dos bairros, categorias de classe, trafegam no mesmo trecho daqueles que não abandonam os salões das torres, são meras próteses estendidas.
      Uma grande parte daqueles que poderiam com o poder de suas opiniões impactar com seus movimentos e destruir a fechadura que impede a ponte deixar de ser levadiça, possibilitando o acesso contínuo às torres, contentam-se em distribuir cestas básicas virtuais. São crentes assépticos, acreditam na revolução só com a ocupação do espaço virtual. E tome aplicativos isto, de certa forma, aplaca consciências.

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