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sexta-feira, 19 de março de 2010

O Corpo e a Alma

A RELAÇÃO ENTRE CORPO E ALMA, SEGUNDO FEDON


      “Admitamos pois - que me servirá de ponto de partida e de base – que existe um belo em si e por si, um bom, um grande, e assim por diante. Se admitires a existência dessas coisas, se concordares comigo, esperarei que elas me permitirão tornar-te clara a causa que assim descobrirás, que faz com que a alma seja imortal” (Os Pensadores-Platão-Vida e obra-pág XV).

      O Fedon é onde se estabelece um novo caminho nas passadas da busca filosófica. Sócrates prova a imortalidade da alma; serve diretamente ao Platonismo enquanto explicador da realidade de forma mais clara, causando a partir deste momento uma ruptura entre Platão e o socratismo, que vinha se manifestando há algum tempo a partir da escrita de “diálogos de transição” com forte ascendência pitagórica. (Os Pensadores-Platão-Vida e Obra-Pág XIV).
      O corpo é o câncer da alma, mas é a única forma que ela tem para se tornar incorruptível, habitar este corpo. Este conflito é que será revelador para ela. Sócrates dizia que a reclusão no pensamento era a forma mais adequada para manter a alma livre das influências do corpo, uma preparação para deixa-lo definitivamente, sendo absolutamente patético não aproveitar a oportunidade quando esta se lhe apresentasse. Mas, até que isto ocorra, a alma tem que se manter completamente afastada das tentações do corpo, tentando dessa forma provar a sua pureza, até que venha o chamado final.
      A relação do corpo com a alma é puramente de interesse, pois a alma necessita do corpo para alcançar a purificação, a verdade. Mas, apesar desta necessidade só alcançara esta verdade longe do corpo, mesmo tendo que estar nele. Para isto ela utilizará ao longo das suas encarnações, quantos corpos forem necessários até conseguir domina-los completamente. Neste movimento, a tentativa de domínio de um sobre o outro é constante. O corpo por sua vez também necessita da alma para viver; o tipo, a forma deste relacionamento é que vai determinar se alma e corpo vão ter ou não enfermidades. Até que este equilíbrio ocorra, o corpo, detentor dos sentidos, mortal, tentará corromper, com estes mesmo sentidos, a alma. O desejo intenso por coisas, o apetite deste corpo através do seu olhar, seu ouvido, sua boca; um empecilho que contamina e impede a busca da verdade: o corpo, com os outros sentidos que restam, bem menos capazes, de forma alguma poderia contemplar a alma com passadas rumo a sabedoria.
      Sócrates imagina encontrar outros como ele para; “... livres da loucura do corpo conversaremos como é correto, com homens que gozarão da mesma liberdade, e, conheceremos por nós mesmos a essência das coisas...”.
      Neste conflito incansável entre a alma e o corpo, ele imagina que as almas corrompidas não alcançarão a pureza. É fundamental amar a sabedoria. Só a alma em pensamentos se harmonizará com a mutabilidade do corpo. Se o corpo é o suporte da alma, ela só se livrará das enfermidades refletindo constantemente sobre as virtudes, sobre o que é a verdade. Como diz Sócrates: “... aquele que se servir do pensamento, sem nenhuma mistura, procurará encontrar a essência pura e verdadeira sem o auxílio dos olhos ou dos ouvidos e, por assim dize-lo completamente isolado do corpo...” E, este, por assim dizer, acordo, envolve também, com a busca pela purificação da alma, livrar o corpo das enfermidades; tornando-o um suporte capaz e mais duradouro para vencer o maior desafio que é alcançar a verdade suprema ainda habitando este corpo, e, não ter que voltar para novas tentativas.
      “Ora, examinemos a questão por este lado: é, em suma, No Hades que estão as almas dos defuntos, ou não?” (Os Pensadores-Fedon-Os contrários-Pag 73). A partir deste momento, ou seja, de ter condicionado a já existência da alma, de existir um depósito para almas, fica mais cômodo para Sócrates solidificar o seu argumento.
      Trabalhando com a idéia de opostos, por exemplo; para existir um mais lento é necessário que exista um mais rápido, ou, se há a morte é porque, antes, houve a vida, e, desta forma, há inúmeras maneiras de demonstrar estes opostos; quando ele trabalha com a idéia da reminiscência, onde de repente temos a impressão de conhecermos algo mesmo não conhecendo de fato, seja pela aparência, ou por qualquer outro evento que transpareça esta lembrança, ele nos encaminha com maestria dialética para a consumação do seu argumento. Se nos recordamos involuntariamente de algo, é porque tínhamos esta lembrança antes de nascermos.
      Como ele já havia pavimentado o argumento com a idéia da existência de um mundo invisível(Hades), 
 vai terminar dizendo que se o corpo depois de sua morte, por mais tempo que ele consiga permanecer, resistir, ele indubitavelmente será consumido, desaparecerá, por mais que existam partes que resistam, como os ossos e os tendões, é um corpo putrefato. E a alma? A alma é o que se eleva, que se encaminha para um outro lugar, perto do Deus bom e sábio, que se imortaliza.(Os Pensadores-Fedon-Os Contrários-pág 85)
      Acredito que se preparar para a morte é voltar-se para os objetos do pensamento, priorizar a contemplação, e, com isto exercer o domínio sobre o corpo de forma harmônica, bem acordada. Penso também que o interesse em desvincular-se do socratismo fez com que Platão, de certa forma, criasse este dialogo, que além de mostrar o conflito entre corpo e alma, faz com que Sócrates morra e se imortalize.

Bibliografia
Os Pensadores
Platão – Diálogos - Fedon
Vida e obra
5ª Edição

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