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Eles não veem novelas, se enovelam em novelos humanos; não velam só revelam a novela humana em novenas sacroprofanas. Júlio César de Carval...

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sábado, 13 de março de 2010

Foi e continua sendo muito bacana tudo isto: GYN 1974/CBA 2010

      Era 1974, tinha saído do exército, onde havia prestado o serviço militar obrigatório, me liberaram só após o recrutamento da nova turma, é o resultado de bater 220 toques por minuto numa velha remington. O rumo estava sem prumo e o espírito nestas horas busca sozinho. Sem impostura segui o aroma do imponderável.
      O ônibus estacionou em frente à igreja, debaixo de um flamboaiã com suas folhas largas e corimbos cacheados. O sol, já na sua hora derradeira, silenciosamente derramava um restinho de luz outonal por entre as árvores, e, caprichosamente se auto pincelava naquela porta espelhada. O motorista, expansivo, de olhos apertadinhos, ostentava um bigode parecendo traços em cada lado da boca. Quepe debaixo do braço, camisa desabotoada, desce preguiçosamente os poucos degraus, dá uma última e prazerosa tragada, jogando o toco do cigarro e esmagando-o com o bico do sapato junto às folhas caídas.
      Da igreja ouvem-se os sons ritmados das preces. E a medida que satisfazem o espírito, as pessoas saem porta afora com mochilas, malas e outros apetrechos em direção ao ônibus. Ignorando a sonolência do condutor sobem os degraus em atropelo procurando os melhores lugares. Ocupei um banco inteiriço, tomava todo o espaço no fundo, ao meu lado aquele paraguaio baixinho, gênio do desenho, fazia as linhas e seus espaços, se movimentarem com leveza e beleza impressionantes.
      Ele muito animado com as possibilidades espirituais da viagem, interessadíssimo em se fazer acompanhar por uma irmã de fé naquela noite de ronco engendrada pelo motor do ônibus até Arujá, nosso destino.
      Um pouco antes da saída uma passageira de última hora desce apressada de um fusquinha vermelho , este, contrastava com sua calça verde molhado, boca de sino, blusa branca de lese amarrada à altura do umbigo, um chapéu de palhinha de abas largas, escuro, boca bem torneada de um vermelho forte na qual se sobressaíam com muita sutileza as presas nos cantos da boca, deixando-a levemente aberta; e a conversa ia solta, divindades e mitos bailavam naquele pedaço, de repente como se houvessem ensaiado, todas as pessoas voltaram seus olhares para a porta e em silencio acompanharam aquela personagem, a principio parecia bem alta, não sei se pelo nariz empinado ou os tamancos de saltos descomunais, quando tocavam os degraus marcavam as passadas decisivas daquela figura, impressionava. Quando tomou a direção do corredor percebi a delicadeza de seu misterioso tamanho.
      Não sei se por instinto de auto defesa, antevisão, sei lá, pedi ao paraguaio: “Ju, bicho me livra desta peça, nossos cheiros não serão harmônicos ,e, ali na poltrona um pouco a frente vou aprender o oriente”. Levantei-me, nesse movimento não pude evitar um roçar de peles, magnético, intrigante, confesso, arrepiante com aquele vulto.





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