Não tendo lido o romance epopéico de Suassuna que deu origem ao filme, terei que limitar o meu entendimento aos fragmentos priorizados por aquele que roteirizou as nódoas impressas deste livro.
Penso que a história através da narrativa de Quaderna que, no caso, é narrador e protagonista ao mesmo tempo nos leva a um passeio no qual somos apresentados a Cervantes, Homero, ao mundo ibérico, aos árabes. Posso dizer que geograficamente aquele pedaço de chão no qual foram representadas as histórias que são contadas não tem espaço nem tempo específicos; flutua, impregnando-se de um espírito universal. Ouvimos os sons das cabras, dos bodes, relincho de jegues, as rezas das rezadeiras, mas somos remetidos quando surgem as vozes dos elefantes, dos camelos, dos tigres; as tendas e também um que da medieval idade.
Uma linguagem shakesperiana; as óperas populares. Tragédias humanas, onde o conflito é resumido pela transpiração que o choro provoca e do sangue da violência.
Da boca de um dos personagens ouvimos que a justiça não é o interesse; poder é o que faz sentido. Diz que o povo é oprimido por tiranos e explorado pelos comerciantes. Os tiranos em nome da grandeza esmagam e os comerciantes em nome da liberdade exploram. Ideais e sonhos deixam de existir e, uma grande parte será guiada pelo sangue. Atualíssimo isto, um diálogo desenvolvido na década de 50 que nos mostra que o tempo é de tragédia mesmo e, as extremidades são o riso e o sangue.
A auto preservação que é uma coisa da natureza humana se desumaniza porque não existe o menor interesse em preservar a espécie, não cuidamos do outro; o que acontece é uma autodestruição sem nenhum objetivo; como na voz do personagem: revoltados em proveito do sangue.
E esta celeuma entre os liberais e os republicanos nunca se resolve; de repente se é um santo escorregando para a impostura. Os que não são ou não podem ser santificados, mas ao mesmo tempo odeiam o impostor, fidelizam a própria violência em detrimento da justiça, da bondade e do bem. Mantendo os impulsos de maldade, desejo e violência.
Alguns intelectuais, como sempre, impressionam a sua mentira sobre aqueles que só tem o sertão em cujo chão são derramados o sangue, o riso e as suas mortes.
Penso ser para o público televisivo que zapeia constantemente, que recebe uma enxurrada de informações, dificultando o pensamento critico; um público que não tem o menor interesse que a obra o comprometa, de repente ter em sua tela de televisão um produto de altíssima qualidade é muito complicado, acostumados que estão com a cultura de massa que a telinha lhes proporciona. Daí o fracasso comercial e o mais grave é a incapacidade, a impaciência, o não desejo que o público tem de se deixar comprometer pelo filme.
Mas, neste caso, teríamos que dar um passo novo para uma outra discussão; aí perceberíamos que alicerces importantíssimos e necessários para sustentar um projeto de nação estão ruindo.
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