A
burocracia de Estado convenientemente aumenta – ministérios e secretarias são
em torno de 40 - e isto elimina ou diminui o poder de decidir da política.
Estamos em um momento de incredulidade naquilo que poderíamos aceitar como
sendo uma autoridade que se reconheça enquanto autoridade. Autoridade é; não pode ser nomeada. Momentos
de eliminar desigualdades no que se refere às oportunidades, mas ao mesmo tempo
fazer com que a Lei seja cumprida. O politico tem que voltar a fazer politica.
Tem que percorrer o trecho da periferia do poder até o centro do poder. Tem que
manter um distanciamento ético/moral, enquanto parte do governo, do centro do
poder que decide. Só assim consegue materializar comunicações que atendam as
demandas das Cidades.
No sistema
que escolhemos, a satisfação vem com a capacidade que temos de materializar as
necessidades que constantemente criamos, fracassa quando o Estado diz que temos
as mesmas oportunidades, promove ações de inserção criando distribuição de
renda, mas na prática a coisa não acontece porque não é só distribuindo
literalmente dinheiro que vai aplacar o desejo insuflado pelo mercado na cabeça
das pessoas com massivas campanhas de marketing.
A produção
não pode parar, mas ela só consegue atender parte da demanda. Por isso o susto
quando nos rolezinhos centenas de pessoas acessam os não lugares assépticos
para transformar uma necessidade criada em um desejo realizado.
Vivemos em
um país com parque industrial arcaico, só exportamos commodities. Ainda somos
um país que estimula a especulação financeira praticando juros altíssimos, só
ver os absurdos lucros dos bancos. Mandamos o primário para a China e ela nos sufoca
com seus produtos demonstrando sua extrema capacidade para gerar distribuição e
desovar sua produção, transformando cada esquina deste país em uma lojinha com
produtos chineses.
Vivemos em
um país que a população em peso fica de olho nos editais de concursos. E nas
filas para inscrição de serviços gerais para atender determinada demanda do município
observamos pessoas de todos os níveis de escolaridade, do analfabeto ao
pós-doutorando.
Os
camelódromos são cada vez mais uma solução e o governo faz vista grossa porque
sabe que é uma bomba com efeito retardado. Não tem coragem para intervir nesta
informalidade do negócio, do emprego e na ilegalidade da mercadoria. Morre de
medo do setor de serviços parar de empregar seja ele legal ou informal.
Vivemos em
um país em que as pessoas não podem se deslocar. Nós temos modais de transportes quase imobilizados. Estradas
péssimas, aeroportos horríveis, faltam hidrovias, ferrovias foram sucateadas e
as que podem acontecer tem sua construção constantemente contestada. O
nomadismo está entranhado, embora urbanos e ajuntados. Forçar um auto-confinamento pode ser uma estratégia, mas a liberdade/felicidade poderia ser
percebida mais prazerosamente se nos dessem condições de mobilidade, deslocamentos
com conforto, segurança e preço. Ônibus queimados a psicanálise poderia
explicar como sendo este desejo não materializado de ter o poder do deslocamento.
Com as
manifestações recentes percebemos um país de um povo infeliz, cerceado na sua
liberdade de ir e vir, que nem pode se manifestar porque uma contra
manifestação imediatamente é deflagrada, seja por policiais ou grupos com
independência questionada. Notamos que é muito mais fácil confinar em
alfaviles, alfavelas e infovias os que cumprem o trato e alguns que cumprem o trato,
mas não necessariamente os que poderíamos chamar de bons. Os nem tão anônimos
que ficam a margem, não necessariamente os que poderíamos chamar de maus, auxiliam
com a sua, então, condição de poder tudo, manter a ordem no confinamento.
Para conter
um atrito interminável de todos contra todos, como dizia um conhecido o Thomas,
acordamos que cada um ia ceder parte do “poder tudo” para que todos pudessem um
pouco de tudo, mas a gula monstruosa de uns poucos, percebendo o comodismo, a
fragilidade da maioria e um Estado completamente ineficiente se apropria de
tudo, dos discursos, dos problemas, das soluções, das emoções. A impressão é
que somos cérebros dentro de um tanque cheio de água, como pensou um conhecido
americano, o Putnam, certa vez.
Júlio césar de Carvalho Jota
Nenhum comentário:
Postar um comentário