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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

E no tanque, os cérebros.

A burocracia de Estado convenientemente aumenta – ministérios e secretarias são em torno de 40 - e isto elimina ou diminui o poder de decidir da política. Estamos em um momento de incredulidade naquilo que poderíamos aceitar como sendo uma autoridade que se reconheça enquanto autoridade.  Autoridade é; não pode ser nomeada. Momentos de eliminar desigualdades no que se refere às oportunidades, mas ao mesmo tempo fazer com que a Lei seja cumprida. O politico tem que voltar a fazer politica. Tem que percorrer o trecho da periferia do poder até o centro do poder. Tem que manter um distanciamento ético/moral, enquanto parte do governo, do centro do poder que decide. Só assim consegue materializar comunicações que atendam as demandas das Cidades.
No sistema que escolhemos, a satisfação vem com a capacidade que temos de materializar as necessidades que constantemente criamos, fracassa quando o Estado diz que temos as mesmas oportunidades, promove ações de inserção criando distribuição de renda, mas na prática a coisa não acontece porque não é só distribuindo literalmente dinheiro que vai aplacar o desejo insuflado pelo mercado na cabeça das pessoas com massivas campanhas de marketing.
A produção não pode parar, mas ela só consegue atender parte da demanda. Por isso o susto quando nos rolezinhos centenas de pessoas acessam os não lugares assépticos para transformar uma necessidade criada em um desejo realizado.
Vivemos em um país com parque industrial arcaico, só exportamos commodities. Ainda somos um país que estimula a especulação financeira praticando juros altíssimos, só ver os absurdos lucros dos bancos. Mandamos o primário para a China e ela nos sufoca com seus produtos demonstrando sua extrema capacidade para gerar distribuição e desovar sua produção, transformando cada esquina deste país em uma lojinha com produtos chineses.
Vivemos em um país que a população em peso fica de olho nos editais de concursos. E nas filas para inscrição de serviços gerais para atender determinada demanda do município observamos pessoas de todos os níveis de escolaridade, do analfabeto ao pós-doutorando.
Os camelódromos são cada vez mais uma solução e o governo faz vista grossa porque sabe que é uma bomba com efeito retardado. Não tem coragem para intervir nesta informalidade do negócio, do emprego e na ilegalidade da mercadoria. Morre de medo do setor de serviços parar de empregar seja ele legal ou informal.
Vivemos em um país em que as pessoas não podem se deslocar. Nós temos modais  de transportes quase imobilizados. Estradas péssimas, aeroportos horríveis, faltam hidrovias, ferrovias foram sucateadas e as que podem acontecer tem sua construção constantemente contestada. O nomadismo está entranhado, embora urbanos e ajuntados. Forçar um auto-confinamento pode ser uma estratégia, mas a liberdade/felicidade poderia ser percebida mais prazerosamente se nos dessem condições de mobilidade, deslocamentos com conforto, segurança e preço. Ônibus queimados a psicanálise poderia explicar como sendo este desejo não materializado de ter o poder do deslocamento.
Com as manifestações recentes percebemos um país de um povo infeliz, cerceado na sua liberdade de ir e vir, que nem pode se manifestar porque uma contra manifestação imediatamente é deflagrada, seja por policiais ou grupos com independência questionada. Notamos que é muito mais fácil confinar em alfaviles, alfavelas e infovias os que cumprem o trato e alguns que cumprem o trato, mas não necessariamente os que poderíamos chamar de bons. Os nem tão anônimos que ficam a margem, não necessariamente os que poderíamos chamar de maus, auxiliam com a sua, então, condição de poder tudo, manter a ordem no confinamento.
Para conter um atrito interminável de todos contra todos, como dizia um conhecido o Thomas, acordamos que cada um ia ceder parte do “poder tudo” para que todos pudessem um pouco de tudo, mas a gula monstruosa de uns poucos, percebendo o comodismo, a fragilidade da maioria e um Estado completamente ineficiente se apropria de tudo, dos discursos, dos problemas, das soluções, das emoções. A impressão é que somos cérebros dentro de um tanque cheio de água, como pensou um conhecido americano, o Putnam, certa vez.

Júlio césar de Carvalho Jota

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