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sexta-feira, 22 de março de 2013

Com Aristóteles: Ética


        A técnica dos artefatos, as pesquisas e a ação como algo  potencializada no sujeito; que pode e tem desejo de discernir, tem um alvo: O bem supremo. Para obter este desejo pressupõe-se a liberdade de escolher um caminho que nos leve a tal; se o conhecimento deste bem é que nos trará a felicidade, precisamos apontar qual ciência o abriga no seu campo de pesquisa. E, para atingir o objetivo traçado é necessária uma atividade que estude o maior número de ciências possíveis. No pensamento aristotélico a política é a atividade que atende a natureza desta ação; exatamente por encerrar em si as outras, poderá com mais capacidade através de seus meios buscar o fim que é o bem humano, e, com certeza terá mais liberdade para com justiça e beleza leva-lo, não só a um, mas a toda uma nação.
        Ora, o que é belo e justo e os próprios bens admitem uma variedade de opiniões, o que levou muitos a não atingirem a felicidade com sua riqueza ou deixaram de existir devido a sua coragem. Torna-se inútil, a arte da política, para os mais novos, quando também permitem que as paixões controlem sua  razão, a ciência não lhes trará nenhum ganho.
        Tanto os homens comuns quantos os cultos concordam que se existe um bem, este bem  é a felicidade. No entanto a maneira como definem isto é bem diferente de um para o outro; o homem simples imagina um conforto imediato que possa ser adquirido através dos bens materiais, o que lhe traria muito prazer e facilitaria as coisas da honra. É certo que para o homem que teve acesso a uma boa educação, este, já tem um bom caminho andado. O homem comum imagina a vida como um autêntico gozo, porque ele confunde o prazer com a felicidade, tal qual Sardanapalo; se não consegue de certa forma descobrir o que está encoberto,  fica com Hesíodo quando, na obra Trabalho e Dias, diz: “....Mas o que por si não pensa, nem acolhe a sabedoria alheia, Esse é, em verdade, uma criatura inútil”.
      Para alguns a honra é sinônimo de justeza, assim como para outros a virtude é a finalidade de ser da política. O conforto material, ter bastante dinheiro, é só um meio que pode ser utilizado para atingir outros fins.
É preferível estabelecer a verdade, apesar da estima que possa existir pelos primeiros que trataram das idéias, porque não é admissível permitir que algo danoso continue a evitar que a verdade venha à tona.
A Universalidade do bem em uma única categoria, não acontece porque ele esta predicado em todas as categorias. Mas mesmo que ele fosse predicado em uma única categoria e, fosse apartado e livre, nós não o alcançaríamos; o que procuramos é algo alcançável. Buscamos o bem de várias maneiras exatamente por imaginar que desta forma chegamos a felicidade. A variabilidade dos fins, faz com que alguns fins sejam absolutos transitórios; mas a intenção é o sumo bem que é absoluto.
        Nem todos os prazeres  são prazeres para todos os homens; alguns amam um animal, outros um espetáculo, a própria justeza é motivo de prazer. Então na maioria dos homens, prazeres estão em colisão uns com  os outros, porque não atendem os desejos de todos os homens de forma universal. Os atos nobres e virtuosos precisam de bens externos que servirão de caminho para chegar a felicidade; que poderiam ser a beleza, ser bem nascido, ou ter uma boa origem, ter filhos bons, ser afortunado. Só o homem adulto pode ser feliz, mas assim como a criança é a esperança de felicidade, um velho que tenha alcançado a felicidade, também pode deixar de possui-la. Poderia ser um presente de Deus, ou uma coisa que viesse com o trabalho diário e, se for este o caso, não deixaria de ser uma recompensa divina porque o fim de todo movimento é o bem supremo. E a atividade diária dedicada à busca deste bem, apesar e porque não dizer devido aos revezes,  é que fará  dos homens seres lembrados na sua essência.
        Compreendendo o universo da virtude talvez possamos compreender melhor o que é e, como alcançar a felicidade que é um ato da alma. Embora a alma e o corpo tenham movimentos diferentes, existe entre eles uma relação de interesses e, no homem que busca as honras e a virtude, é necessária a temperança, que é o  meio termo entre os excessos para mais ou para menos. Praticando as virtudes intelectuais passa a ver as virtudes morais como necessárias para chegar a felicidade plena. Se aceitamos o fim supremo procuramos de todas as maneiras meios para atingir o bem(fim) supremo.
        Procuramos sempre o que nos faz bem e, o que nos faz bem nos dá prazer, mesmo contrariando alguns que dizem ser o prazer uma coisa ruim. Ao orientarmos os mais novos, o caminho sempre nos leva ao prazer e a dor, o que causa muitas discussões. Se fazer uma boa refeição é prazeroso, comer em excesso pode nos fazer mal; Como sentiria o prazer de um homem praticando a honestidade se não sou honesto. Tem coisas que são prazer em si mesmas; algumas coisas da nossa natureza que independente de nos causar prazer ou não precisamos que funcionem bem, como é o caso da vista, da memória, de ter causas nobres. A vida é ação e o prazer é o complemento desta atividade.
Os tiranos adoram um produtor de eventos; são ações produzidas e conduzidas para de certa forma fragilizar a observação e, são  necessárias para o controle do reino. Desta forma podemos dizer que a felicidade advinda do divertimento não é o fim buscado.
Podemos dizer que ter o conhecimento é mais prazeroso que a indagação; e o filósofo tem a possibilidade de buscar a verdade quanto mais conhecimento tiver, independente das outras coisas. E se a razão é que possibilita isto ao homem exatamente porque a razão é parte do homem, é fato que esta é uma vida mais feliz. A Contemplação é um bem em si mesma e é para onde a felicidade tende; o complemento seria uma qualidade de vida na medida, sem excessos; e, se os deuses se envolvem nos casos humanos seriam mais íntimos daqueles que lhes honrassem acima dos outros bens; donde se conclui que o filósofo por ser o detentor de todos estes atributos será o homem mais feliz.
           O que queremos é o bem supremo;  mas como só alguns são bem nascidos e belos, o que de certa forma lhes facilitaria o passo para descobrir o caminho e, dentre estes a maioria mesmo com estes privilégios ainda não conseguem; imaginemos a grandíssima maioria, o povo que não tem um nascimento adequado e belo, estes com certeza terão muito mais dificuldades, pois vivem só as suas paixões incontroláveis que dificulta qualquer relação de argumentação.                     
        Como nem todos os homens são influenciados pela transmissão de conhecimento, temos que tornear hábitos que os nutram de desejo pelas virtudes. Como a família não tem poder suficiente para conduzir os passos que formariam o homem desejado, é necessário criar uma estrutura onde o estado assuma a autoria desta formação; criando boas leis que dê suporte ao lar, este de certa forma até determinada idade tem o controle dos filhos bem jovens. Estas leis, estes estudos, para descobrir a melhor forma de construir isto, teriam que ser realizados pelos que de certa maneira já detém o conhecimento particular e universal; onde podemos pensar que a política é o terreno adequado para cultivar esta semente.

Júlio César de Carvalho J

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