Se somos as vezes copa ou raiz, se fazemos este passeio nos extremos, é uma herança da imagem divina da qual fomos formados. Esse espaço entre ser e ter que ser é a laboração do nosso universo sagrado, espaço que usamos, também, para proteger e sacralizar nossas profanidades. Criando um plano para assentar nossos conceitos. Neste movimento o animal, em nós, lamina a sua lâmina buscando um lugar, não necessariamente para ficar, mas para voltar. Nomadismo que faz com que ele exista sem existir, profanizando-se orgiasticamente porque a orgia é pré temporada para atingir o sagrado. E num calombo do caminho procura, e, nos espasmos loucos da procura quase sempre ignora o lugar ficando com a paisagem. Nesse morrer diário, muitas vezes, só nos resta a sanidade louca de procurar as trevas para um recomeço, um caosmo que originaria o mundo possível. Mas o caos banalizado deixa de ser energia impulsionadora para criação de novos mundos, os que criamos são tão repetitivos que me fazem pensar num irônico círculo ocasionado por alguma disfunção da física quando olhamos e pensamos o espaço-tempo, observados e observadores não se entendem. Advindo daí os muros que segregam, fascismo idiotizado, guerras, canibalismo, as hipocrisias e mentiras costumeiras, a babel convenientemente continua. Não são novidades. A grande diferença é que passaram a fazer parte do horário nobre sem restrições de idade. Caos, midiático, engendrado para manter as pessoas confinadas em seus guetos particulares, atormentadas, vivendo intensamente o brilho de seu próprio reflexo. Fazendo com que jamais reencontrem o caminho que as levem até a porta. Enjauladas, vivem a moderna sociabilidade. Afinal, a rua é o melhor lugar para andar, onde nuvens e pensamentos se entreolham, criando cheiros e lugares. Onde a massa fica no ponto para uma boa assadura. Quantos passos; domar esta energia, condicionar para um pensamento único, parar fora da faixa sem nenhum semáforo, ver o outro passar com passos lentos e só então prosseguir, caramba, isto é incrível. Bilhões de almas contidas. Sucesso devasso de autofagia que nos leva a continuar neste descaminho de construção de muros alfavílicos. E neste ir, mas não indo, um símbolo vivo da palestina brasileira está configurando-se nos pensamentos equivocados de entidades que nas entrelinhas de seus bastidores torcem pelo segregacionismo, ignorando as milhares de diferenças intimamente misturadas da qual é formada a estampa do tecido social brasileiro. Nas entrelinhas das linhas vermelhas das cidades, grandes muros são idealizados, criando condomínios especiais, “Alfavelas”, idéia da cu(ó)pula, a sutileza fará com que os denominem de Monumento, com direito a grafitagem e a painéis de “artistas” contemporâneos. Recuso este confinamento. “Viver sempre foi muito perigoso” não é de hoje. Quero as ruas, as filas, os acertos misteriosos nas esquinas da praça Alencastro. Prefiro morrer de bala perdida, jamais perdido em janelas que não me deixam ver. Às vezes imagino um concluio, arquitetam-se os movimentos de tal forma, e, passamos a desacreditar na existência do sol. Um roteiro Orweliano. Prefiro suar na canela debaixo de um solão de 40° a entregar o meu cérebro num tabuleiro para os canibais. Os filósofos, os artistas, os criadores, devem estar confusos, pois na busca pelo único costumam mergulhar literalmente no caos, contemplar a desconstrução, atormentarem-se na procura da explosão criativa, e, neste movimento percebem a virtualidade deste caminho, névoas, o deslocamento é imprevisível, e, o mundo tem que ser fundo para gerar a energia para o inédito. Tenho a impressão que só a aparição de seres mitológicos, sobrenaturais, que lembrem a energia pura do começo nos fará acordar de um sonho e irmos para um outro, quem sabe, paradisíaco. Os humanistas ficam completamente desnorteados com a descoberta da não virtuosidade humana, o ser deixa de ser humano, e, paradoxalmente, dele são cobradas ações para humanizar-se. Refletindo a contemplação, chegaríamos então a conclusão que após a queda nos (re)tornamos animais instintivos nem bons nem maus, porém, contidos, necessitando sacrificar mais alguns cordeiros para justificar uma mordida antiga punida com muita severidade. Tudo por causa de Sofia, que nos abandonou.
domingo, 7 de março de 2010
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