A dialética do sertão; cantorias orais, cordéis, e, o ápice materializa-se nos mitos nordestinos. Tudo isto está impresso na película, no filme de Capovila.
No caso, Capovila pensa o ciclo do boi, que foi o movimento, entre outros, que deu início à ocupação sistemática da região.
A imensidão do sertão e sua magia são mostradas de cara em uma panorâmica, lembrando os antigos filmes de faroeste; onde vaqueiros campeiam o gado solto pela região. Neste momento um contradito; o gado campeado pelos vaqueiros é marcado com a marca do coronel, e este gado “selvagem” é que alimenta ou aumenta seu plantel.
Se pensarmos, o mito nordestino do boi é, em um primeiro momento, alimentado pela “coragem” do vaqueiro; as histórias contavam as peripécias dos cavaleiros e seus cavalos; o boi era coadjuvante. A violência do boi era construída para servir a valentia e invencibilidade do vaqueiro.
E esta valentia e invencibilidade serviam a um patrão que abastecia de acordo com suas conveniências a falsa liberdade que as vaquejadas, jogos e torneios faziam transparecer.
E o filme de Capovila conta a história de um boi misterioso, diferente e , de um destes valentes vaqueiros, que também passa a ser o narrador não só da insubmissão do boi, mas daqueles fragmentos de paisagens nordestinas, de riso e de sangue.
O que é mostrado nos faz perceber que fora daquela bolha de jogos e torneios que servem a um patrão, a paisagem é de desolação, abandono que nem o mito resolve.
O vaqueiro menino encontra-se com o espírito do boi e contaminado por ele, livra-se de uma canga que mostra-se para a maioria, de uma forma bem conveniente.
O vaqueiro aprendeu que liberdade é algo que nos faz transpirar para alcançá-la e tão logo imaginamos tê-la conseguido, esvai-se pelos dedos da mão. Então, tal qual o boi, sai insubmisso pelo sertão tentando contamina-lo com uma possível liberdade.
Júlio César de Carvalho Jota
Júlio César de Carvalho Jota
Muito bom o seu texto. Não canso de assistir o filme, pois parece que me escapa algo na cena ou nos versos, que são a verdadeira essência do Poeta Nordestino. Vendo no CINE BRASIL, fui pesquisar, encontrei seu blog. O nosso Brasil, em todos os cantos tem seus encantos, está tudo lá! Histórias, verdades, anedotas, versos, muita música boa... Não desprezando a modernidade, pois eu não estaria aqui agora, mas, temos que deixar registrado os costumes dos nossos antepassados para poder entender o presente e ver melhor o futuro. Parabéns Júlio César.
ResponderExcluirFico imensamente grato por acessar o meu diário. Este filme nos foi apresentado pelo próprio Capovila em um módulo de pós graduação em cinema ministrado por ele aqui em Cuiabá no ano de 2009. A saga do sertanejo continua. E quase que ele fica sem esta parceria tão intima que ele tem com o boi que de certa forma anestesia o seu sofrimento, a vaquejada. Questionada por ambientalistas foi suspensa por ordem do STF, mas o senado capitaneado pelos coronéis do trecho aprovou uma lei que normatiza o "esporte". Coisa que gera voto, controle social e heróis sertanejos que não podem faltar inseridos que são nas histórias que são contadas.
Excluir