No
semáforo, quando abaixamos um pouquinho o vidro e entregamos aquela moeda
geladinha sem olhar para a cara do sujeito compramos momentaneamente a nossa
consciência.
Falam em
invisibilidade, mas ignorar não causa invisibilidade, só não se esforçam pra fazer parte
de uma provável solução. Como uma coisa pode ser invisível se todos
convenientemente se apropriam dela, o Estado e seus governos ávidos por
discursos que se valem destas situações para venderem seu peixe, neste caso
especifico podem usar as palavras que mais se ouvem nas campanhas eleitorais
fáceis nas bocas destes que adoram problemas permanentes que retroalimentam
seus discursos: segurança, saúde e
educação. A Academia com seus artigos e é ventos que por mais bem intencionados
que sejam não causam um fato relevante sequer para um possível movimento de
solução. Aqueles que se valem destas imagens para roteirizar grandes enredos,
tirar fotografias que não de propósito, mas sem querer querendo estetizam a
miséria ganham prêmios, participam de festivais, mas não existe a
materialização de uma solução, mínima que seja.
O gestor
estrategicamente pensa que todos reunidos em um trecho especifico da Cidade, já
em si, é um magnifico controle, evita “intervir”; e o controle não é só dos
habitantes da ilha, mas de toda a cidade, pois aliado à mídia veicula notícias
que provocam o medo, o auto confinamento; esta atitude vem a calhar porque os
habitantes do lugar também não querem sair; tem tudo ali, os que abastecem, os
que compram, os que se escondem, pequenas apropriações forçadas podem ser
feitas, pois o fluxo de pessoas é intenso, são vários semáforos.
Não existe desumanidade,
não somos alienígenas, todo processo que produz virtude ou barbárie é
totalmente concebido por nós humanos. Não podemos nos contradizer pedindo
dignidade para as pessoas ao mesmo tempo que não aceitamos que elas saiam
daqueles escombros, isto não faz parte do acordo que todos temos com a Cidade e
infelizmente a cidade não esta cumprindo a sua função que é promover o encontro dos diferentes e das diferenças, para isto inventamos a Cidade. Em situações como esta,
a da ocupação, o que existe é sobrevivência, difícil, mas pode até ser que
aconteça, o afeto, a educação.
Moro aqui
há 37 anos, tenho imagens do final da década de 80 com atividades de
recuperação do Morro da Luz, no final da década de 90 o Júlio Mariano
participou de um trabalho de final de curso que dissecou o Morro da luz e a sua
história, tenho fotos, VHS, tenho o coração do Morro, em todas as ocasiões
festas monumentais aconteciam, mas a ressaca não tardava, pois ficava quem
gostava realmente do Morro.
Sinceramente
a Cidade merece que o que estava projetado, há décadas, se materialize: a
integração da igreja, com o Morro da Luz e o trecho da ilha da banana, uma
grande praça, onde todos, eu disse todos possam rela(r)cionar-se. A Cidade precisa cuidar bem dos seus citadinos e cuidar dos habitantes da ilha da banana
é primordial, são pessoas que passam por situações que a própria Cidade e suas promessas não cumpridas provocam, as desestabilizam, por isso momentaneamente vivem nesta situação.
Um conceito, a Gentrificação é utilizado de modo equivocado, em
minha opinião, para tentar explicar esta ação de reintegração. Não está sendo provocado um movimento que violente as praticas culturais do local, só se
a regra for morar em escombros, consumir drogas (ainda não foi aprovada uma lei
que libere as drogas e determine locais para o consumo) e uma possível ocupação
do trecho por mega projetos imobiliários que vão beneficiar uns poucos, nada disso
esta acontecendo ali, até mesmo porque à área para execução de um projeto que
privilegie o lucro é muito pequena; lucratividade como sempre é a do tráfico e das ações adiadas do mau gestor. É um bom assunto, gosto muito e vou
continuar esmiuçando-o.
Júlio César de Carvalho Jota